Mecanismos de ação da massagem no pós-operatório cardiovascular (parte 2 de 2)
Estudos anteriores concluíram que a massagem produziu uma redução significativa da dor e da ansiedade em diferentes populações de pacientes como, por exemplo, pacientes com cancro, pacientes com demência, pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca e pacientes que foram submetidas a cirurgia abdominal.
É possível que os benefícios da massagem resultem da resposta parassimpática associada à diminuição da atividade cardiovascular, causando redução do nível de hormonas de stress e aumentando a sensação de tranquilidade. Também é possível que o efeito mecânico da massagem desencadeie uma resposta neurofisiológica analgésica e calmante. Uma terceira teoria utiliza a modulação da dor através de estímulos concorrentes para explicar os efeitos da massagem. A pressão manual aplicada nos tecidos moles ativa vias aferentes de condução mais rápida que aquelas utilizadas pelos nociceptores, inibindo, assim, a transmissão do impulso nervoso das últimas.
Para que uma variação na percepção da dor seja clinicamente significativa deve ultrapassar os 12% e o presente estudo demonstrou existir uma redução de 15% nos resultados obtidos através da Escala Visual Analógica*.
No que respeita à ansiedade, também notou-se melhoria. O controle da ansiedade através da massagem é favorável ao controle da dor. Há um corpo crescente de evidências que mostram o efeito prejudicial que o stress exerce sobre a cicatrização de feridas e o sobre sistema imunitário. Portanto, qualquer intervenção que ajude a atenuar, com segurança, o impacto de uma cirurgia cardiovascular deve ser considerada.
Embora o número de artigos apurados nesta revisão com meta-análise seja relativamente baixo, com alguns deles apresentando características que podem enviesar os resultados, grande heterogeneidade (91%) mas devemos ter em atenção que a dor é uma experiência essencialmente subjetiva e, portanto, difere de pessoa para pessoa. Outros fatores que poderão ter contribuído para a heterogeneidade da análise são: o tipo de massagem administrada e a zona do corpo focada, e a baixa qualidade metodológica.
Em conclusão, a administração da massagem como estratégia não farmacológica aplicada precocemente, por 20 minutos, uma ou duas vezes por dia, no pós-operatório de pacientes que foram submetidos a cirurgia cardiovascular tem um efeito positivo na redução da dor e da ansiedade. Estes resultados vêm apoiar a utilização da massagem como terapia adicional no controle da dor e do stress. Contudo, são necessários estudos de maior escala e maior qualidade para reforçar (ou refutar) as conclusões aqui tiradas.
Nota
*a Escala Visual Analógica foi o instrumento utilizado para quantificar a dor nos diversos estudos analisados; o paciente registra um valor entre 0 e 10, em que 0 significa "sem dor" e 10 significa "a pior dor que consegue imaginar"
Fonte
Miozzo A, Stein C, Bozzetto C, Plentz R (2016). Massage therapy reduces pain and anxiety after cardiac surgery: a systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials. Clinical Trials and Regulatory Science in Cardiology, Vol 23-24, Pg 1-8.